É cedo para se ter certeza, mas já é chegada a hora das especulações. Estaríamos nós, usuários da rede de internet, conectados a outros e cientes de algumas possibilidades na rede fazendo parte de um anarquismo digital?
Quando estamos tratando de "anarquia", geralmente costumamos associar a uma ideia socialmente compartilhada pela nossa realidade cotidiana, fruto de uma tentativa de negação de sua possibilidade conceitual real por quem desejara essa concepção equivocada. Logo, essa ideia banalizada e popular de anarquia e chega a ser contraditória à ideia própria ideia conceitual.
Portanto, para tirar o preconceito do conceito, vamos ao que diz a Wikipédia, nossa enciclopédia virtual:
"Anarquia significa ausência de coerção e não a ausência de ordem. A noção equivocada de que anarquia é sinônimo de caos se popularizou entre o fim do século XIX e o início do século XX, através dos meios de comunicação e de propaganda patronais, mantidos por instituições políticas e religiosas. Nesse período, em razão do grau elevado de organização dos segmentos operários, de fundo libertário, surgiram inúmeras campanhas antianarquistas. Outro equívoco banal é se considerar anarquia como sendo a ausência de laços de solidariedade (indiferença) entre os homens. À ausência de ordem - ideia externa aos princípios anarquistas -, dá-se o nome de 'anomia'."
Citado isto, vamos ao que interessa: por que se diz que hoje poderia haver um espaço para o Anarquismo Digital? O que é Anarquismo Digital?
A sensação de uma expectativa otimista para com a atual conjuntura política e social global voltada para o exercimento de uma cidadania universal provocada pelo desenvolvimento tecnológico a um ponto em que o indivíduo se vê como o centro do consumo, o motor e a mercadoria ao mesmo tempo, parece inaugurar uma série de expectativas libertárias justificadas pelo aumento do exercimento da política enquanto esta se aproxima do cotidiano humano. É aquela ideia de participar sem muitas vezes precisar sair de casa para ir a um protesto em dias de chuva, apenas num clique para apoiar uma ideia, assinar uma petição, repassar uma ideia em prol de valores políticos, sociais - humanos em geral. Sabemos que, para a funcionalidade eficaz de um movimento social (entendido como um dos fatores essenciais à busca de conquista de direitos além da obrigação do papel do Estado), é preciso algumas características básicas. O sociólogo Alberto Melucci, na tentativa de uma teorização geral a para as organizações sociais caracterizadas como os novos movimentos sociais, elabora 3 fatores essenciais para a realização deste movimento: a) Solidariedade, b) a manifestação de um confito, c) o rompimento dos limites de compatibilidade do sistema em relação à ação em pauta.
Entendendo que a solidariedade se dá pelo reconhecimento dos indivíduos participantes de um movimento social a partir do compartilhamento de valores e anseios comuns, dentre outras coisas, é que é possível vislumbrar o conceito de Anarquismo Digital enquanto um desses valores que poderiam potencializar nos indivíduos formas de consciência capazes transformar uma determinada realidade a partir da mobilização, seja on-line, seja prática.
Tendo este post a função de produzir uma reflexão, este conceito foi cunhado enquanto um tipo ideal de conscientização social. Não se trata de discorrer sobre o que já existe, mas sobre uma, dentre tantas outras, possibilidades de se tornar uma realidade de acordo com nossas condições existenciais e técnicas. Abaixo, seguem algumas características do que se poderia fortalecer o discurso em defesa de um anarquismo digital.
- A tecnologia hoje permite, pela primeira vez, o poder e o discurso se aproximar das mãos dos que outrora eram dominados em diversas esferas (religiosa, cultural, política, social, política e econômica) por outros agentes de uma sociedade antagônica;
- Se antes éramos condicionados a (re)produzir gostos determinados pela mídia já "tradicional" como a TV, o Rádio e os Jornais, a condição que se impõe para nós hoje é de sermos mais livres para escolher o que consumir em termos de informação, sendo esta a principal jóia da sociedade contemporânea;
- A prática política se aproxima do cidadão à medida que este está interligado e voltado para o exercimento de uma cidadania pautada pelos direitos humanos globais;
- Dos movimentos ciberativistas mais simples aos mais práticos, é mais fácil se organizar na rede virtual. Uma das principais características da internet é a redução do espaço físico enquanto um problema. Somada à acessibilidade maior de deslocamento espacial, as condições de mobilidade entre indivíduos são hoje as melhores;
- O poder de decisão passa cada vez mais do produtor ao consumidor na sociedade capitalista. Este se vê na situação de ser ouvido e de se manifestar, caso se sinta lesado por alguma empresa. Sua palavra é sua principal munição, sua principal arma são os sites de rede social;
- Os agentes libertários do anarquismo digital seriam os desenvolvedores de softwares opensource.
- Os mantenedores deste valor político seriam os cidadãos interligados e participativos da rede, onde direcionariam suas práticas na rede, além da busca por lazer, trabalho, dentre outras coisas, pela mobilização em prol de valores humanos compartilhados globalmente, como a garantia de direitos humanos para regiões mais remotas do globo, partindo uma força de apoio e reivindicações do global para o local;
- Para além do valor político, o anarquismo digital também perceberia na possibilidade do estreitamento das relações entre artistas e admiradores, fãs e ídolos em sites de redes sociais e outras instâncias, de maneira que as eventuais "divinizações" alienantes outrora existentes fossem reduzidas ou mesmo desconstruídas.
Para esse anarquismo digital se tornar uma realidade, no entanto, é preciso reconhecer os riscos da vida em rede. Como bem nos alerta Jean-Paul Sartre, a liberdade é também opressora. Nossas escolhas podem não confluir para o desenvolvimento de uma solidariedade humana, mas para um narcisismo determinado pela própria arquitetura da rede. É preciso haver reflexão sobre o que decidimos consumir hoje, e termos em mente que estamos em condições de modificar nossas práticas para uma preocupação mais humana com o mundo e menos mecanicista. O desafio, caro leitor, é reconhecer e combater o hábito do consumismo individualista que continua a ser desenvolvido pelas empresas e modificar o uso de determinadas estruturas virtuais para ações que beneficiem o ser humano de um modo geral. Há muito por se fazer, mas é de certa forma possível dizer que estamos, mais do que nunca, com as ferramentas necessárias nas mãos.
E aí, o que você acha? Estaríamos em direção a um Anarquismo Digital?
Oui! Estamos. Mas a sabotagem já começou, com governos se debruçando a mesa para discutir mecanismos de controle sobre a internet.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÈ verdade sim ,não podemos comemorar ainda mas sem dulvida já temos um forte sinal que nos aponta uma importante via de que possamos acreditar cada vez mais que é possivel o funcionamento do socialismo libertario, ou seja o anarquismo natural e tudo terar inicio pelo anarquismo Digital.
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