sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Estaríamos em direção a um Anarquismo Digital?

 

É cedo para se ter certeza, mas já é chegada a hora das especulações. Estaríamos nós, usuários da rede de internet, conectados a outros e cientes de algumas possibilidades na rede fazendo parte de um anarquismo digital?

Quando estamos tratando de "anarquia", geralmente costumamos associar a uma ideia socialmente compartilhada pela nossa realidade cotidiana, fruto de uma tentativa de negação de sua possibilidade conceitual real por quem desejara essa concepção equivocada. Logo, essa ideia banalizada e popular de anarquia e chega a ser contraditória à ideia própria ideia conceitual. 

Portanto, para tirar o preconceito do conceito, vamos ao que diz a Wikipédia, nossa enciclopédia virtual:

"Anarquia significa ausência de coerção e não a ausência de ordem. A noção equivocada de que anarquia é sinônimo de caos se popularizou entre o fim do século XIX e o início do século XX, através dos meios de comunicação e de propaganda patronais, mantidos por instituições políticas e religiosas. Nesse período, em razão do grau elevado de organização dos segmentos operários, de fundo libertário, surgiram inúmeras campanhas antianarquistas. Outro equívoco banal é se considerar anarquia como sendo a ausência de laços de solidariedade (indiferença) entre os homens. À ausência de ordem - ideia externa aos princípios anarquistas -, dá-se o nome de 'anomia'."

Citado isto, vamos ao que interessa: por que se diz que hoje poderia haver um espaço para o Anarquismo Digital? O que é Anarquismo Digital?



A sensação de uma expectativa otimista para com a atual conjuntura política e social global voltada para o exercimento de uma cidadania universal provocada pelo desenvolvimento tecnológico a um ponto em que o indivíduo se vê como o centro do consumo, o motor e a mercadoria ao mesmo tempo, parece inaugurar uma série de expectativas libertárias justificadas pelo aumento do exercimento da política enquanto esta se aproxima do cotidiano humano. É aquela ideia de participar sem muitas vezes precisar sair de casa para ir a um protesto em dias de chuva, apenas num clique para apoiar uma ideia, assinar uma petição, repassar uma ideia em prol de valores políticos, sociais - humanos em geral. Sabemos que, para a funcionalidade eficaz de um movimento social (entendido como um dos fatores essenciais à busca de conquista de direitos além da obrigação do papel do Estado), é preciso algumas características básicas. O sociólogo Alberto Melucci, na tentativa de uma teorização geral a para as organizações sociais caracterizadas como os novos movimentos sociais, elabora 3 fatores essenciais para a realização deste movimento: a) Solidariedade, b) a manifestação de um confito, c) o rompimento dos limites de compatibilidade do sistema em relação à ação em pauta.

Entendendo que a solidariedade se dá pelo reconhecimento dos indivíduos participantes de um movimento social a partir do compartilhamento de valores e anseios comuns, dentre outras coisas, é que é possível vislumbrar o conceito de Anarquismo Digital enquanto um desses valores que poderiam potencializar nos indivíduos formas de consciência capazes transformar uma determinada realidade a partir da mobilização, seja on-line, seja prática.

Tendo este post a função de produzir uma reflexão, este conceito foi cunhado enquanto um tipo ideal de conscientização social. Não se trata de discorrer sobre o que já existe, mas sobre uma, dentre tantas outras, possibilidades de se tornar uma realidade de acordo com nossas condições existenciais e técnicas. Abaixo, seguem algumas características do que se poderia fortalecer o discurso em defesa de um anarquismo digital.

  • A tecnologia hoje permite, pela primeira vez, o poder e o discurso se aproximar das mãos dos que outrora eram dominados em diversas esferas (religiosa, cultural, política, social, política e econômica) por outros agentes de uma sociedade antagônica;
  • Se antes éramos condicionados a (re)produzir gostos determinados pela mídia já "tradicional" como a TV, o Rádio e os Jornais, a condição que se impõe para nós hoje é de sermos mais livres para escolher o que consumir em termos de informação, sendo esta a principal jóia da sociedade contemporânea;
  • A prática política se aproxima do cidadão à medida que este está interligado e voltado para o exercimento de uma cidadania pautada pelos direitos humanos globais;
  • Dos movimentos ciberativistas mais simples aos mais práticos, é mais fácil se organizar na rede virtual. Uma das principais características da internet é a redução do espaço físico enquanto um problema. Somada à acessibilidade maior de deslocamento espacial, as condições de mobilidade entre indivíduos são hoje as melhores;
  • O poder de decisão passa cada vez mais do produtor ao consumidor na sociedade capitalista. Este se vê na situação de ser ouvido e de se manifestar, caso se sinta lesado por alguma empresa. Sua palavra é sua principal munição, sua principal arma são os sites de rede social;
  • Os agentes libertários do anarquismo digital seriam os desenvolvedores de softwares opensource.
  • Os mantenedores deste valor político seriam os cidadãos interligados e participativos da rede, onde direcionariam suas práticas na rede, além da busca por lazer, trabalho, dentre outras coisas, pela mobilização em prol de valores humanos compartilhados globalmente, como a garantia de direitos humanos para regiões mais remotas do globo, partindo uma força de apoio e reivindicações do global para o local;
  • Para além do valor político, o anarquismo digital também perceberia na possibilidade do estreitamento das relações entre artistas e admiradores, fãs e ídolos em sites de redes sociais e outras instâncias, de maneira que as eventuais "divinizações" alienantes outrora existentes fossem reduzidas ou mesmo desconstruídas.


Para esse anarquismo digital se tornar uma realidade, no entanto, é preciso reconhecer os riscos da vida em rede. Como bem nos alerta Jean-Paul Sartre, a liberdade é também opressora. Nossas escolhas podem não confluir para o desenvolvimento de uma solidariedade humana, mas para um narcisismo determinado pela própria arquitetura da rede. É preciso haver reflexão sobre o que decidimos consumir hoje, e termos em mente que estamos em condições de modificar nossas práticas para uma preocupação mais humana com o mundo e menos mecanicista. O desafio, caro leitor, é reconhecer e combater o hábito do consumismo individualista que continua a ser desenvolvido pelas empresas e modificar o uso de determinadas estruturas virtuais para ações que beneficiem o ser humano de um modo geral. Há muito por se fazer, mas é de certa forma possível dizer que estamos, mais do que nunca, com as ferramentas necessárias nas mãos.

E aí, o que você acha? Estaríamos em direção a um Anarquismo Digital?



3 comentários:

  1. Oui! Estamos. Mas a sabotagem já começou, com governos se debruçando a mesa para discutir mecanismos de controle sobre a internet.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. È verdade sim ,não podemos comemorar ainda mas sem dulvida já temos um forte sinal que nos aponta uma importante via de que possamos acreditar cada vez mais que é possivel o funcionamento do socialismo libertario, ou seja o anarquismo natural e tudo terar inicio pelo anarquismo Digital.

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