quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A atual condição de bens de consumo na era digital


As transformações na sociedade contemporânea provenientes do estado globalizante e do avanço tecnológico e sede do capitalismo em explorar novos mercados afetam não só as relações humanas de maneira geral, mas também os bens de consumo e as formas de consumo desses bens. As práticas de obtenção são geralmente modeladas a estar de acordo com a satisfação de necessidades e interesses do indivíduo mediante a negociação com o mercado. Dentro disto, os valores sociais engendrados para o consumo podem ou não estar de acordo com o controle do mercado (a ideia inicial é que esteja, mas outras estratégias de consumo do público podem ocorrer). O que é certo dizer, na verdade, é que quaisquer que sejam esses desvios ou formas de controle do consumo de bens, eles ocorrem dentro de um espaço específico de obtenção de acordo com as fronteiras tecnológicas traçadas. Neste caso, tomemos um pouco de reflexão acerca da atual condição de bens de consumo na era digital.

Se antes as relações de produção e consumo se davam mediante e  exclusivamente a troca de bens de consumo por outros bens considerados equivalentes ou por uma moeda cujo valor é reconhecido na sociedade das partes negociantes, hoje percebemos uma terceira categorização que distorce essa "regra" de mercado. Acredito que uma análise profunda é a única maneira de dar conta da compreensão desse novo fenômeno, portanto aqui o objetivo é apenas elucidá-lo. 

O advento da internet permitiu a criação de uma nova dimensão de socialização e de trocas comerciais. As suas bases explicativas ainda são novas para as ciências sociais como um todo. Só agora se reflete algumas causas e consequências dessa novidade e ainda está para serem criadas teorias regulatórias do mercado na rede - o que não impede a cacofonia de apostas por parte de várias empresas. Além dessas características, a internet permitiu também formas de compartilhamento específicas ao passo que as relações humanas se engrandeciam na teia social on-line propiciada pelos centros de gerência de informação e as mídias sociais. Dessa forma, os computadores - os quais são reconhecidos aqui como terminais de entrada (do mundo para a rede) e saída (da rede para o mundo) de material informático (arquivos de todos os formatos) - se tornaram os pontos principais de inserção de material na rede, e as estruturas das mídias sociais além de sites de hospedagem, as formas de manutenção e compartilhamento de dados on-line. Tais dados, permitidos pelo avanço tecnológico, se codificam em arquivos de música, vídeos, imagens, textos, etc.  e são repassados de terminais em terminais como parte de relações sociais que adquirem novas formas (relações anônimas - quando indivíduos sem nenhum nível de familiaridade ou conhecimento entre si compartilham dados direta ou indiretamente; relações nomináveis - quando indivíduos conhecidos de si em algum nível relacional compartilham dados; relações constantes de compartilhamento - quando indivíduos mantêm-se em contato para compartilhar dados). Assim, percebemos que alguns dos bens de consumo - como a música, produto humano ressignificado como mercadoria pelo capitalismo - são trocados sem necessariamente haver um valor de troca equivalente. 
São os downloads gratuítos, os downloads ilegais encontrados na rede, etc. Note que o fato de considerar um download ilegal supõe que há uma tentativa de regulamentação do compartilhamento de dados por um determinado Estado (ou um grupo de Estados), no entanto as formas de combate a essa forma de compartilhamento ainda não são maduras o suficiente para superar possíveis valores que podem se tornar direitos de uso da internet (como o direito ao compartilhamento consciente de dados). Seguido da ausência de fiscalização e pressão popular pelo não pagamento de downloads, a realidade atual, pelo menos no Brasil, é de que essa prática de compartilhamento afeta ou pressiona as formas tradicionais de mercado adquiram novas estratégias no mercado on-line. Há artistas, por exemplo, que sentem mais vantajoso o compartilhamento de sua obra gratuitamente com os fãs, em troca de divulgação e de um retorno mais à frente de reconhecimento financeiro de seu produto: seja descontado nos ingressos, seja na produção de materiais físicos. 

A verdade é que parece que os artistas se anteciparam nessa forma de mercado (que defendo dever ser considerada) mesmo antes de outras empresas que veem a internet mais como um perigo de lucro para si do que a aceitação da necessidade de modificar suas estratégias de novas formas de obtenção de vantagens.

Os consumidores desses bens de consumo, na era digital, pelo menos atualmente, só têm a ganhar.

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