sábado, 22 de outubro de 2011

A ditadura da visibilidade

"Imperativo da visibilidade" é um conceito tecido por uma autora chamada Paula Sibilia, que significa a necessidade da sociedade atual da exposição pessoal. De caráter individualista, põe a condição de que é preciso ser "visto" para existir no ciberespaço.

Para Recuero, no livro "Redes Sociais" (2009), Talvez, mais do que visto, essa visibilidade seja um imperativo para a sociabilidade mediada por computador.

O que parece significar essas conclusões das autoras que estudam algumas das atuais dinâmicas da comunicação mediada por computador? Não estaríamos vivendo atualmente numa Ditadura da Visibilidade?

 Num post anterior, apresentei a crítica de Bauman (transcrevendo trechos do livro "44 Cartas do Mundo Líquido Moderno") para com o Twitter (não só para o site do passarinho, mas as mídias sociais em geral). O autor chama a atenção de que a indução do site em perguntar ao usuário "O que está acontecendo?" produziria uma cacofonia de sons cujo conteúdo não era mais importante do que o fato de se dizer algo. Esse é um aspecto do incentivo à visibilidade proporcionado pelas mídias sociais. No Facebook, por exemplo, cada vez mais você é incentivado a dizer mais sobre você do que em qualquer outro lugar. As atualizações do site indicam que será legal se você mostrar o seu dia a dia com fotos, frases e vídeos.

Afinal, diante do que as mídias colocam para nós seguirmos, essa aparente "Ditadura da Visibilidade", quais os impactos disso em nossas práticas sociais? Será que estas não estariam modificando de acordo com nossa vivência e forma de dedicação à rede? Diante da enxurrada de tentações para dizermos ao mundo sobre o que gostamos, pensamos e fazemos, será que isso não contribui essencialmente para nos tornarmos cada vez mais individualistas?

A compreensão das relações socais provenientes na Internet ainda estão longe de serem esgotadas, no entanto já há discursos como o de que na rede, as relações são de produtores e consumidores de informação, e numa estrutura como a mídia social Twitter, essa relação se torna mais evidente: se usuário X não me interessa em nada, então não faz sentido eu segui-lo. É de fato uma escolha somente MINHA mantê-lo ou excluí-lo, mas a estrutura do site e sua dinâmica de funcionamento me INCENTIVA a querer filtrar usuários, pois a timeline corre o tempo todo com atualizações de todos que eu sigo, e eu não gostaria de ter inundações de atualizações de perfis que não são importantes para os meus objetivos de participar daquela mídia social.

Talvez não importe se usuário X na vida real é meu parente ou meu amigo. O que fará eu segui-lo será outros critérios. Isso parece romper com uma relação de fidelidade tradicional, onde o ser importava-nos mais por seu caráter e por sua amizade do que pelo que este poderia oferecer a mim. É óbvio pensar que as relações em rede não são exatamente como as relações na vida prática, mas não podemos pensar que o virtual é o falso enquanto que a vida prática seja a vida real. O virtual é tão real quanto o prático, apenas muda sua dimensão para um espaço onde podemos projetar - ou nós mesmos, ou outros. É por isso que me interessa compreender o quanto o uso da internet pode mudar ou já tem mudado nossas relações interpessoais na vida prática. É uma preocupação não só de interesse acadêmico, mas também uma angústia de interesse humano.

Um comentário:

  1. As redes sociais nos deram a oportunidade de aparecer, mas isso já é uma característica humana, agora mais escancarada.

    Bela provocação, Nô!

    Abs,


    '@richardplacido

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