As marchas organizadas na Internet e aplicadas nas vias públicas de várias partes do país são uma das formas mais comuns de ciberativismo. A prática de ir às ruas reivindicar algo, no entanto, já é uma estratégia conhecida ao longo das formações sociais históricas em várias partes do mundo. Mas o que parece haver de diferente e específico aos tempos atuais são necessariamente o tipo de agente participativo, o objetivo e a estratégia de organização, como afirma Robert Brym (et al, 2010) no livro Sociologia: sua bússola para um novo mundo. Através das discussões propostas pelo autor em sua obra, percebemos que esses marcos analíticos, aplicados em diferentes formas de movimentos sociais ao longo de diferentes processos históricos, possuem características específicas que variam de época em época.
Na sociedade contemporânea, conhecida pelos avanços tecnológicos e sobretudo na área de comunicação, os marcos analíticos sugerem que o agente participativo é basicamente uma heterogênea formação de setores populares compostos por variados estratos sociais (do pobre ao intelectual, do estudante ao professor, do desempregado ao empresário). O objetivo dessa nova forma de
movimento social na sociedade global seria basicamente reivindicar a
garantia ou
conquista de direitos ou benefícios mais ampliados e menos restritos a
uma causa determinada (como uma reivindicação do Movimento Sem Terra ou
de políticas afirmativasas afirmativas do Movimento Negro), o que justificaria em certo ponto a heterogeneidade de participantes aderentes a esse novo tipo de manifestação. No entanto, em vias de esclarecimento, essas reivindicações não tendem a substituir os movimentos sociais tradicionais. Apenas a identidade dos novos movimentos sociais é que são específicas no que confere ao grau de durabilidade, muitas vezes dependente da própria velocidade com a qual a informação é consumida na rede. Se por um lado temos uma sociedade que vive, dentre outras formas de captação de informação, na alta velocidade de informações vomitadas a todo momento via internet, por outro, temos uma dinâmica nova de organizações de movimentos sociais, quase que igualmente rápidas no que se refere à durabilidade da manifestação, no entanto ocorrente em várias edições. É o que temos visto em 2011 com tantos protestos indo às ruas a partir de organizações em mídias sociais (o que seria portanto a estratégia de organização dos novos movimentos sociais).
A sensação é que o número de manifestações organizadas na rede este ano é maior do que o número de movimentos sociais em anos anteriores, cuja estratégia de organização social específica ainda não tinha sido perceptível pelos ativistas. Uma outra hipótese de uma variabilidade de agentes componentes de estratos sociais distintos que participam de manifestações práticas organizadas na rede é o fato de tais manifestações serem pontos de encontro entre indivíduos que até então se conheciam apenas via Internet. Assim, a função dessas mobilizações não se limita somente ao ato de reivindicar, mas também ao ato de promover o contato entre aqueles que lutam por uma mesma causa.
É nesse contexto de novos movimentos sociais que as marchas tem se pautado. Marchas sobre diversas reivindicações, as quais são comuns em vários setores da sociedade, são deflagradas em várias cidades. Tais marchas, por conta de sua ocorrência recorrente, já foram questionadas muitas vezes em termos de causa e de efeito, além de serem ridicularizadas por indivíduos que entendem estas manifestações como algo em vão. Ao se estruturar na justificativa de que, na sociedade constitucional e democrática, o verdadeiro efeito se faz mediante o voto dos representantes para o campo político (o que logo depois diriam que é outra coisa sem efeitos, uma vez que o povo brasileiro não se interessa por política), estes críticos das #marchascontra alguma coisa parecem ter conquistado a razão. No entanto esquecem que, uma vez a sociedade brasileira estando cética no campo político (e por isso o desinteresse no tema da política, o que acaba na eleição dos mesmos políticos corruptos de sempre), é preciso fazer algo para mudar nossas estruturas sociais. E é aí que eu defendo a prática das marchas, na medida em que servem, além da reivindicação per si e do local de encontro entre ativistas, como meio educativo e de conscientização política por parte de quem participa. Essa concepção "educacional" das marchas é importante no sentido de que elas trazem para perto da juventude participativa desses movimentos (estudantes ou jovens trabalhadores) e parte da população cética que vai às ruas pra ver no que é que dá, um quê de oportunidade para se discutir direitos e deveres dentro da cidadania que todos os brasileiros têm direito.
Em suma, pode ser que os críticos contra as marchas realmente tenham razão em estas não produzirem um efeito reivindicatório tão grande quanto o uso dos meios legais ou a hora de você deliberar o seu voto. No entanto, as demais funções sociais que as marchas permitem são essenciais para ajudar a ensinar o povo a lidar com a democracia de maneira ideal, e combater esse ceticismo ao passo que temas políticos se tornem assuntos do dia-a-dia.
Concordo contigo, meu caro. E esta reflexão é bastante pertinente para os dias atuais.
ResponderExcluirContudo, estou aqui para te deixar uma boa notícia. É que o CiberEstudos é um dos blogs homenageados da sessão “de olho na blogosfera” deste mês do Conversa Paralela. Para conferir, basta acessar o link http://migre.me/6etRG. Será um prazer recebê-lo por lá!