terça-feira, 7 de junho de 2011

Compartilhamento.



Nesses tempos de internet, o compartilhamento da informação se tornou uma das principais - senão a principal - forma assumida de trocas de produtos simbólicos no mundo contemporâneo (entenda por produto simbólico tudo aquilo que seja capaz de ser consumido em termos virtuais: uma música, um filme, uma informação, um livro, um documento etc.).

Sem substituir a forma comum de obtenção de bens - mediante a troca de produtos pelo dinheiro -, no entanto, o compartilhamento de informações passou a ser uma das principais práticas da cibervida e dependente dele para a manutenção da existência desta.

Entendemos o atual momento como a era da informação devido, além de outras coisas, a característica básica de ser o período histórico que pela primeira vez trabalha com a produção de informação como foco principal dos imperativos do capitalismo. Assim, diante das novidades técnicas e tecnológicas, surgem novas formas de mobilidade social, sejam elas positivas ou negativas. O processo cada vez mais acentuado de robotização para a substituição de mão de obra, a necessidade de um indivíduo formado mais refinadamente para lidar com as demandas comerciais voltadas ao conhecimento especializado de acordo com os interesses da empresa (esta, por sua vez, exigindo-lhe e aplicando-lhe novas práticas provenientes do movimento comercial que se cria através da lógica da "aldeia global" e da vida na Internet), só para citar alguns moldes pelos quais a relação trabalhador-chefe se complexifica, demonstra como o conhecimento tem superado a força braçal para se manter empregado em alguma empresa ligada nas novas demandas mundiais.

Do lado positivo, vemos o surgimento de novas formas de emprego, as quais demonstram maior flexibilidade sobre a carga horária e a produção muitas vezes se une ao lazer de quem produz. Casos como o "ócio criativo" (estudado pelo Sociólogo Domenico de Masi, pode ser COMPARTILHADO aqui) enquanto modalidade de produção são criados dentro dessa nova perspectiva do trabalho. De fato, não há motivos para dizer que essas novas formas de trabalho deixem de fazer parte do processo de exploração. Temos sim, no lugar de uma exploração fisica, uma exploração intelectual (termo inaugurado, acredito, desde a profissão de tutores e professores), o que nos faz pensar como o capitalismo tem se entranhado cada vez mais em meios domésticos, e como tem sido preocupantemente excludente, como aponta JOsé Tapias em Internautas e Náufragos.

Mas voltando à reflexão acerca do compartilhamento, este se encontra como um fator positivo da era da informação. Hoje, por exemplo, ficou muito mais fácil procurar informações sobre livros, sem contar a possibilidade de tê-los em nossa casa. O consumo da cultura também se expande, como é o caso de as limitações para alcançar objetos culturais como filmes, peças, músicas e a própria literatura dependerem mais de nossa curiosidade em conhecer coisas novas quando estamos online do que das limitações espaciais e sociais em que nos encontramos.

Um problema básico do compartilhamento, no entanto, compreende a questão dos direitos autorais. Ficou muito mais difícil ter controle sobre aquilo que você produz e que coloca na rede. Desde a advertência das instituições educacionais contra o plágio de trabalhos até os cuidados com as estratégias de publicação de material artístico por parte de uma gravadora, por exemplo, a questão dos direitos autorais emerge e passa a ser um caso de crime contemporâneo.Mas não se trata de um problema causado somente pela internet. As cópias de textos (consideradas crime várias vezes) e a pirataria vêm um pouco antes e já alimentavam o debate sobre os direitos autorais.

Há quem, no entanto, consiga tirar vantagem disso ao acreditar que ser contra novidades como o compartilhamento, renda qual renda for, é estar cavando o próprio buraco. Seguindo as tendências da internet, as estratégias de divulgação de um livro ou um álbum de músicas nas mídias sociais, por exemplo, tem se mostrado um meio alternativo de alcançar ao máximo o maior número de pessoas. Exemplos como o da banda Detonautas, que decidiu se tornar independente depois de quase 10 anos fazendo parte da Warner Brasil e da Sony & BMG, são radicais e tornam o meio virtual não como um simples meio alternativo, mas o meio principal de divulgação. Aposto particularmente que este seja o caminho pelos quais o universo artístico passe a caminhar com mais frequência, assim que descobrir os fatores positivos do compartilhamento online. Acredito que com cada vez mais adesão a essa prática, estejamos prestes a ver uma nova revolução cultural através do compartilhamento. 

Outros artistas também tem aberto os olhos para isto e saído das dependências da relação da gravadora com as rádios e TV nacionais, divulgando seus materiais em diversas maneiras, como os serviços de streaming de transmissao de músicas e shows, como fazem diversas bandas atualmente.

Enfim, são exemplos de como o compartilhamento tem se tornado fundamental para a sobrevivência e o desenvolvimento de estratégias de ação em tempos contemporâneos. Fazer com que a informação chegue ao maior número de pessoas é como semear um fruto que poderá trazer riqueza depois, se somado aos meios comuns de arrecadação de capital com a venda de materiais físicos ou mesmo online, ou de ingressos para performances.

2 comentários:

  1. A velocidade com os bens simbólicos são compartilhados hoje é assustadora. A primeira vez que compartilhei bites foi no tempo do napster, mas daquele tempo pra cá (e nem são tantos anos assim) tudo ficou muito mais dinâmico. Com um botão você compartilha uma notícia em uma rede social com várias pessoas que podem fazer o mesmo e o produto flui numa velocidade altíssima.

    Direitos autorais, como você cita, são o eterno problema nisso. Mas a Lady Gaga, por exemplo, teve um boom justamente por compartilhar o seu conteúdo por canal oficial de YouTube. Acho que pra isso se dá um jeito.

    Queria dizer mais coisas mas tão chamando aqui. Tô no trampo.

    PS: Diesel, que tocou no Rock in Rio 2001 (abriu o show da última noite), não seria essa primeira banda independente a tocar no palco principal?

    PPS: Fui!

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  2. Sobre o Diesel: É mesmo, Mário! Bem lembrado! No caso, então, podemos citar o Detonautas como a "primeira-banda-brasileira-independente-a-tocar-no-mainstream-do-rock-in-rio-utilizando-a-internet-como-ferramenta-principal-de-divulgação-do-trabalho, hehehe!

    Abraços!

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